2024
Luz Que Rasga A Carne é uma instalação que mergulha na tensão entre matéria e energia, entre o corpo e aquilo que o atravessa. A obra propõe uma meditação visual e sensorial sobre a dualidade entre o tangível e o intangível, explorando o modo como a presença da luz, símbolo de transcendência, espiritualidade ou revelação, colide com a densidade da carne, com o peso da existência física. A instalação constrói-se a partir de um ambiente saturado de névoa e incenso de sândalo, onde cicatrizes moldadas, marcas e abstrações visuais flutuam entre o visível e o oculto. Estas formas evocam uma memória corporal que não é apenas literal, mas também simbólica; são sinais de contacto, vestígios de um embate entre o que se manifesta e o que escapa à forma.
A obra organiza-se em dois momentos. No primeiro, escutamos a narração de um acontecimento: a luz tenta penetrar o corpo, rasgá-lo, mas falha. A matéria resiste. O que permanece são marcas, cicatrizes deixadas pela luz, que não a contêm, mas que a denunciam. Fragmentos de uma presença que nunca se completa, que nunca se fixa. No segundo momento, vemos a luz liberta da carne. Separada da matéria, manifesta-se em estado puro, volátil, vibrante, intocável. Esta presença luminosa, desprovida de corpo, convoca uma forma de espiritualidade sem dogma, onde a transcendência não nega a carne, mas a habita e a transforma.
Luz - 250cm x 250cm x 170cm Carne - (x5) ~70cm x 40cm x 0,2 cm
Matéria orgânica, Latex, Silicone, Pêlo sintético, Tinta acrílica, Luz
Anotio, 2024